Dois gênios ultrajantes. Tive sorte de ser provinda de uma mãe tão passional, sensível, e de papai ter herdado a posição firme, o amor pela música e o sarcasmo, a inteligência rápida, respostas maleadas de ironia e veneno. Tá certo que tenho a mesma arcada dentária, os dentes largos, grandes e fortes; os pés grandes, um pouco masculinos e a unha do dedão que mais se assemelha a uma tela de plasma; e a pele que pega um bronzeado bonito, facilmente, mas tão frágil que faz visitas periódicas ao dermatologista. Dessa miscigênação que sou, fisicamente posso ser a cópia de mamãe (a não ser pelos itens citados à cima) todavia, da personalidade, a maioria das características vieram pelo sangue paterno, e foram se moldando, com convivência diária, alguns atritos e muito amor, sobretudo. Muitas vezes a gente discorda, e entra numa disputa, o tom que se eleva mais, a cara mais feia, ou quem se arrepende primeiro. Em outras circunstâncias, tiramos sarro de pessoas na rua, olhamos os discos antigos juntos ou assistimos à programas televisivamente inúteis, rindo com sorrisos confidentes. É uma relação que ora está por cima, ora lá em baixo. E com tantas diversidades, alguns traumas, a gente aprende cada dia mais, juntos e com os outros dois pequenos, mamãe também e isso que a gente chama orgulhosamente de, família.
Ter pais novos é um desafio tanto para quem nasce, como para quem gera. Deve ter sido triste perder parte da juventude, possíveis viagens, incontáveis festas e as amizades deixadas de lado, em prol de um ser em fase de desenvolvimento. Não posso me culpar por ter nascido, e não tenho ousadia bastante, ou tal cara-de-pau que me faça reclamar da vida que levo, levei e todo o esforço que eu sei que por vezes foi dolorido e desgastante, da parte de vocês. Como disse, o que ganharam, ganhamos, foi muito aprendizado. Muita maturidade, o respeito como prato na mesa, principal. Primordial. Genitores de pouca idade instauram no lar uma espécie de adolescência que nunca morre, renovação de gostos, de idéias e pensamentos. Ainda que o machismo exista, o que é normal aqui no Estado. A verdade é que, o relacionamento é tão mais leve, mais informal e ainda assim, com respeito. Não me imaginaria chamando papai ou mamãe de senhor, senhora. Algo infundável..
O fato é que desse poço de juventude que vejo meu pai beber da água diariamente, ainda que os anos passem, e a tendência seja envelhecer, é o que hoje muitas pessoas não acreditam, e eu custo a crer, que meu pai faz quarenta anos. Não aparenta fisicamente, nem em palavras, idéias. Talvez o Sol em Aquário, divago. E dizer o que eu não digo com frequência ou quase nunca, que eu admiro a trajetória que ele escolheu traçar, essa predisposição e amor ao trabalho, o pensamento sempre nos filhos, na família, em primeiro lugar, e se deixar em segundo plano. Alguém que batalhou desde a adolescência, e hoje tem o que têm, está no lugar que se permite, somente por perseverança, e trabalho árduo. Parabéns, pai. Que a gente se dê cada dia melhor, comece a ter uma visão de vida parecida, conceitos quase iguais e eu ainda possa aprender muito, nesses poucos anos que me restam lá em casa! Hoje, mais do que nunca, que as coisas continuem como estão, e saúde em primeiro lugar. Muito, muito amor pela família, pela mamãe e pelo trabalho. Amor gratuito pela vida. E fé, porque sem ela, qualquer castelo desmorona em segundos e o destino, os caminhos, se tornam meio obscuros e complicados. Parabéns!
(e sim, meu pai é a cara do Humberto Martins. ou primo distante do John Travolta. Como preferirem.)

Confesso que meu coração ficou do tamanho de uma ervilha agora de tanta saudade que teu texto me fez sentir de casa. Dos meus pais. Dessa convivência, deste aprendizado e amor que descrever tão verdadeiramente aqui.
ResponderExcluirEstou emocionada.
Grande beijo. *-*
Texto lindo, flor.
ResponderExcluirAinda não o tinha visto.
Muitas vezes nós não os entendemos, mas a verdade é que eles, os pais, fazem tudo pensando em nós.
Abraço!