Espero.

8.14.2010 -


Se quer me ver tensa, nervosa e ansiosa, diga apenas um verbo, e sete letras: esperar. Uma ligação, confirmação, algum resultado, numa fila, ou num banco da praça. Nada me deixa tão louca e fora de mim, do que esse tempo que se prolonga, e parece não passar nunca. Passa, eu sei que passa, porém enquanto meu pensamento se bloqueia numa só esperançosa ação, viro quase obsessiva. E nem me adianta dormir, praticar algum esporte ou tentar fazer tricô. De repente, volta à mente aquilo que fingia ter esquecido, e me vejo tirando com a boca a cutícula, tremelicando a perna ininterruptamente e mordendo de leve o lábio, que é pra ver se o corpo se ocupa, e a mente se distrai, o mundo se aquieta. Orgulhosa de mim, e do meu feito em permanecer calma e complacente, serena e harmoniosa por dias e mais dias, eu sabia que não duraria muito. Explodiria, como bomba-relógio escondida no peito, essa paz acumulada em palavras, que é como quase sempre acontece, no meu roteiro. Não posso ir guardando opiniões, sentimentos e frases premeditadas, que quando escorro, de nascente se faz rio; é uma enxurrada.
O que me doía então, era esse não saber de coisa alguma - e ao mesmo tempo, achar saber de tudo. Essas promessas de volta perfeita, e de ida saudosa. Que no fundo sabemos que nem vai acontecer, mas alimentamos qualquer centelha teimosa, que insiste em não se propagar de uma vez. As pessoas espantadas, com a minha calma e complacência, toda essa comodidade que nunca foi minha, e que era apenas tatuagem temporária - bonita enquanto durou, mas que foi saindo de mim, e dando espaço à minha real inquietude. Então, como quem aguarda o ataque, eu espreitava a hora certa de atacar. Adiantada como me é rotineiro, dei o bote antes da temida hora certa, e como sempre, deixei vir à tona toda e qualquer verdade, que andava em mim submersa. Foi libertador? Foi. Necessário enquanto pode, e suntuoso, quando ainda era real. Agora talvez se entorne em ser passado, e me resta não pensar demais, pra não endoidecer, de vez. Sair, e aproveitar a vida. Em alguma noite, qualquer festa, no shopping ou no calçadão. No frio desse inverno rigoroso, ou enquanto a primavera adentrar. Na fila, que é pra onde volto, depois de tanto tumulto e algumas lições: na linha indiana, de quem merece alguma sorte e um tempo final de descanso, que é pra onde volto com alívio e alguma paciência restante. Que não demore, apenas isso - esperar cansa, aguentar o tédio é tarefa para doentes. Daqui a pouco surto, e é só esperar o vulcão que aqui já entra em erupção. Aleluia!

25 Comentários:

  1. Esperar!
    É só pensar em te que esperar que eu tremo. Esperar me deixa ansiosa demais. Aí, acabo por me precipitar, bom ou ruim, meio que cega pega ansiedade.

    Esperar faz mal à minha sanidade.
    E tentar me controlar aumenta o turbilhão de energia, acumulada.
    É como uma mola: quanto mais comprimida, mas forte de expande.

    Beijo!! *=)

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  2. Corrigindo:
    "mais forte se expande."

    hehehehe
    *=)

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  3. Pior que esperar por qualquer coisa - um lugar melhor na fila, ou um enxugar de lágrimas nos ombros de quem me acompanha - , é esperar por mim. Nunca volto no tão famoso momento certo e quando chego, não me quero mais.

    Um beijo, Queridona!

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  4. Flor, nem preciso dizer. Esse seu talento para descrever sentimentos em palavras é brilhante! Mais um belíssimo texto.

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  5. O verbo "conversar" me deixa ainda mais tensa.

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  6. Que saudade eu estava daqui.Voltei ao blog e já estou escrevi um post novo.

    Mas bem quanto ao texto concordo totalmente.A espera também me deixa louca.Ultimamente ando num estado de espera.Estou esperando atitudes e decisões de alguém que só promete e não faz.E como dói essa espera.

    bj Camila!
    Não perco mais um post daqui a a partir de agora.Estava com muita saudade de ler o que você escreve. :)

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  7. "aguentar o tédio é tarefa para doentes."

    Perfeito.

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  8. E depois de algum tempo sem passar pelo seu blog, voltei a visitar constantemente, e é como um alívio, uma mistura diferente, contagiante e única de escritores que tanto admiro! Gosto da sensibilidade expressada em cada um de seus textos, querida, e o mínimo que posso dizer é que me encanto com cada palavra! Mais um texto magnífico, parabéns. +___+

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  9. Engraçado que esse texto saiu bem no meu momento. Aquela calmaria disfarçado pois vendaval que sou não deixa ela permanecer por muito. Ah Camila, sempre fico acostumada com suas palavras. elas são mimos que causam saudade. beijos, o texto está ideal para o meu momento, bem escrito e cheio das tuas frases bem boladas e inteligentes.

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  10. Concordo em tudo contigo... Esperar, seja por quem for, em qualquer lugar, não é para mim.. As coisas só me deixam felizes se acontecem no meu momento, no meu ritmo....

    Bjok, Flor...

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  11. Não nasci para esperar, definitivamente!!! aiauhuiah.. Gostei do textoo, sempre me identifico com o que tu fala. Beijoo lindona

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  12. Sem dúvidas, este com certeza foi o texto que mais me tocou, adoro viver junto com suas palavras que dançam na minha frente, cada momento nelas expressados. Eu amei o texto, e me segurei par anão chorar. Parabéns. Eu adoro isso. haha
    Beijos

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  13. camila, mais uma vez vc leu minha mente!
    estou me segurando pra nao explodir o meu vulcao, mas cada dia que passa isso me consome mais e mais... agora, vc prefere desabfar tudo frente a frente, ou por escrito?
    mil beijos, e parabens mais uma vez!

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  14. Só você pra transformar o tédio da espera em poesia rsrsrsss. Parabens flor seu blog, suas palavras, sempre emocionando! Bjusss

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  15. Não há nada pior que esperar; sei como é dificil demonstrar uma calma que não nos pertence, mas as vezes é preciso...
    Existem algumas situações da vida, que só o que nos resta é esperar...
    beeijo ;*

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  16. Esperar? Também me bate essa sensação desesperadora de perca de tempo, essa ansiedade, me torno esse vulcão também. Esse é um verbo que eu não gosto de conjugar. Mas espero e espero e espero.
    Beijos!

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  17. E haja fôlego pra esperar.
    Agora, eu espero, espero algo que tquero ver acontecer. Não mesmo. Torcendo pro tempo ter dó de mim.
    Mas não nos desesperemos; esperemos: cedo ou tarde vem o final feliz, uma vez que somos as mocinhas.
    Beijos.

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  18. corrigindo: NÃO quero ver acontecer.

    -

    Só se for o contrário, aí eu quero.

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  19. nossa, eu ODEIO esperar! (leia o 'odeio' com aquele acento forte no 'e', que só as mulheres sabem fazer!)
    gosto de tudo pra ontem, me irrita muito quando alguma coisa não acontece já!
    aí, claro, coloco os pés pelas mãos... enfim, pelo menos dá material pra escrever! =]

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  20. Muito bom, guria!
    Também odeio esperas. O tempo se arrasta, a gente vai se angustiando...é péssimo! Seja lá qual for o motivo. A minha espera já acabou, o desfecho foi horrivel, mas passou. Sempre passa. Ainda bem!
    "Aguentar o tédio é tarefa para doentes." E esperar é para gestantes, elas sim, têm que ter muita paciência.Hahahahaha.

    Beijos, Camila.

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  21. Não nada pior do que a espera, pelo menos para mim. Nunca sabemos o que virá e ficamos paralisados pela expectativas, esperanças e uma agulhinha que nos perfura lentamente, que é o medo. É quase enlouquecedor. Nossas verdades escritas com toda sua genealidade e delicadeza. Que texto gostoso de ler.
    Beeijo guria.

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  22. Indiquei o seu blog para ganhar um selo olha lá, no meu Blog:
    http://mile-nanda.blogspot.com/

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  23. Menina, esse negócio de esperar também não é comigo.
    Nessas horas viro a maior vilã das minhas lindas unhas. Hahaha

    Beijo grandee! ;*

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  24. Hahaha
    Esperar não é pra mim tbm! =p

    Mas quem sabe o fato de esperar nos ajude a ter mais paciência. Como um exercício... Heheh

    BjO

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