No momento em que você cai, nada aparentemente muda. Queda vertiginosa, espaço non sense. E ao seu lado, tudo aquilo que deveria estar exposto à luz, e fica escondido como num baú; lembranças boas e antigas, que confortam o peito em momentos de aflição, admitem sorrisos de nostalgia, e logo voltam ao desprezível lugar fechado a que submetidas - nude, pouco transparente; claustrofóbico.
E aí que então começa o movimento de quem saí na rua e sacoleja, e você não entende nada, mas enjoada sente aquela náusea de quem vai vomitar, enquanto só quer ver a luz, que é turva e não ajuda muito na verdade. Continua não compreendendo como foi parar lá, você que era antes flor iluminada pelo sol, em crescente companhia e cuidados, podada em defeitos e regada em sabores. Tão querida e vívida, e de repente, enclausurada. Quando te avisavam que essa hora chegaria, você continuava em direção ao sol, e os fones no ouvido, não entendendo que algum dia você poderia também ficar sem escapatória, e trancafiada em seus próprios pensamentos deturpadores, à mercê de alguém que nem ao mesmo boa vontade tem de deixar que você respire, e viva, e que gosta mesmo é de se sentir poderoso em deixar que você veja alguma luz do túnel, ocasionalmente - que na verdade é lanterna fantasiosa, e não virá nunca; pura ilusão que te alimentam.
Tédio, nada para fazer, ideologias e teorias costuradas que rondam a mente, e voltam, nesse ciclo vicioso que é sacolejar aos cuidados alheios, e não te controle nenhum sobre o que se diz, ou faz, voz que sai e não é ouvida. Embrulhada tanto em papel, quanto o estômago, nesse caminho que é tortuoso e não se sabe nunca onde termina, às vezes você até sai e vê o mundo, porém na maioria das vezes é só sua infeliz presença nessa prisão voluntariosa que não a faz rasgar tudo e cair fora, voltar à tona com tudo, do nada. Cada vez menos, os raios do sol, o brilho da lua, alguma estrela que seja sua. E então é com todos esses afetos e porcelanas, algumas cartas e discos antigos, muito da sua alma que ficou perdida e precisa ser recolhida que você se toca que, na verdade também, tudo não passa de: um renascimento, uma preparação pra algo melhor que vem por aí e você sente, sua intuição te diz que sabe. Labareda por dentro voltando a ser acesa, auto-estima recarregada, e cada vez mais o cuidado em ser melhor tanto pra você, quanto pro mundo, e planos sendo arquitetados, órbitas visitadas, cota de ressentimentos zerados. Uma nova visão de mundo e de rostos, interesses e gostos. Tudo que você precisava, não é? Caderninho de aprendizados ainda mais preenchidos, histórias para contar devidamente no seu lugar: escritas, papel passado.
Sem reparar, essa foi mais uma parte de um crescimento que parecia ser uma sacola no começo, e na verdade não passava de casulo. Quando vê, você nem ao menos cabe mais nesse mundo tão pequena, e mente tão fechada de onde era carregada, e tudo se iniciou. Sofrimento no começo, liberdade ao fim. Vontade cada vez mais voraz de desapertar desse alvéolo que foi bom, e hoje não merece mais abrigar toda minha feminilidade que se recuperou, e quer ganhar as ruas. Contudo, na hora certa. Que você sabe que é daqui a pouco, e prepara e mente, o corpo, e o espírito. E que quando chegar, num rompante aquilo que era inércia se transforma em vôo: lagarta que aprende e muda, um dia pelos ares voa. Pousando sobre quem quiser, e merece alguma perda que na verdade é prazer, de tempo. Intangível, livre, despreocupada, madura; borboleta que confundiu sacola com casulo, e o vento tirou pra dançar.
Para Drika Castro, uma amiga.
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querida, é mais que uma honra ver ler isso aqui e ainda por cima com meu nome e você me chamando de amiga. São lágrimas de emoção que rolam agora, por conhecer alguém que me entende e transforma isso em um texto que vai entender muita gente também. Isso com certeza foi um dos melhores presentes que ganhei. Te adoro, Camila. E sempre lembre-se que estarei sempre aqui.
ResponderExcluirque bonito. sabe Camila, seus textos já possuem a sua forma de escrever, seu jeito de levar as palavras e sua forma de sentir, pensar. lendo esse texto, acabei entrando nele, sentindo-o. muito bonito. espero que ela tinha gostado. beijos
ResponderExcluiracho que todo mundo sente esse tédio. :~
ResponderExcluiresse medo, é tão confuso.
é tão simples que chega a ser confuso.
lindo seu texto.
Esse tédio é constante. Infelizmente ele existe. Que saco.
ResponderExcluirBeijos
"Vontade cada vez mais voraz de desapertar desse alvéolo que foi bom, e hoje não merece mais abrigar toda minha feminilidade que se recuperou, e quer ganhar as ruas. Contudo, na hora certa."
ResponderExcluirConheço bem essa vontade de despertar, e quando acontece é muito bom e libertador!
Belas palavras como sempre flor!
Beijos
Nossa que lindo, vc tem um dom de expressar com palavras, sentimentos comuns a todos nós
ResponderExcluirbeeijos flor
Estava devendo um comentário aqui á tempos já. Pra começar digo que desde o primeiro texto que li teu, me apaixonei completamente. São todos maravilhosos, tens uma facilidade e incrível habilidade de passar milhares de sentimentos com apenas algumas palavras. Ah, obrigada por me seguir no twitter, fiquei super feliz e me senti super honrada. Não ache que estou aqui só "rasgando seda" (hahaha) mas é que precisava mesmo te dizer isso, e te dar os parabéns e desejar muito mais sucesso. Você vai longe escrevendo. Parabéns mesmo! (Estarei aqui sempre, conte comigo :D)
ResponderExcluirSe um dia meu blog ser metade do que o teu é, me sentirei super feliz, hahaha.
Beijos!
http://memorias-escritas.blogspot.com/
Lindo texto...é um texto que eu precisava ler pra ver se minha inspiração fosse despertada. Vamos ver se eu consigo!
ResponderExcluirLindo mesmo
Beijos, GURIA! haha
"Caderninho de aprendizados ainda mais preenchidos, histórias para contar devidamente no seu lugar: escritas, papel passado.
ResponderExcluirSem reparar, essa foi mais uma parte de um crescimento que parecia ser uma sacola no começo, e na verdade não passava de casulo. Quando vê, você nem ao menos cabe mais nesse mundo tão pequena, e mente tão fechada de onde era carregada, e tudo se iniciou." Precisamente como eu me encontro no momento, vendo esse crescimento passado se mostrando mais intenso e preciso agora, todas as minhas amizades verdadeiras tem me mostrado o quanto são valiosas e isso que me importa. Lindo esse texto.
Beijos.
Preciso confessar que sempre que venho aqui sinto uma invejinha boa, aquela que brota da admiração que sentimos por alguém,que nos faz espelhar, ter como exemplo.
ResponderExcluirE a que sinto quando vem aqui é a melhor: admiro seus pensamentos, e pra mim, isso é o mais importante em um ser humano.
Você escreve muito bem e sabe transmitir a nós tudo o que pensa, nos atinge com suas palavras.
E, enquanto eu puder, divulgarei as maravilhas que você escreve.
Parabéns!
Tem um pouco de mim aí...
ResponderExcluirDeixo aqui meus suspiros cada vez mais constantes, toda vez que entro aqui. A Camila... é incrivel como todas as pessoas que entram no seu "mundo particular" se identificam com tudo que você escreve.
ResponderExcluirGostei também da Anti heroina, cansamos de ser rotuladas.
aaah já ia me esquecendo, aquele texto é tradução da música ;)
ResponderExcluirum grande beijo querida
Camila, nem preciso dizer que me vi nesse texto. Como tu disse no meu blog, estamos passando uma fase parecida, mas temos que ser fortes para superá-la.
ResponderExcluir"Intangível, livre, despreocupada, madura; borboleta que confundiu sacola com casulo, e o vento tirou pra dançar." Essa frase resumiu tudo! Parabéns novamente por conseguir usar tão bem as palavras, fazendo com que todos se identifiquem com o que tu escreve! Beijos e boa semana!!
"Sofrimento no começo, liberdade ao fim"
ResponderExcluirFoi isso que descobrir, tava me sentindo tal mal, nao conseguia respirar, era tudo muito abafado; mas agora nao vejo um recomeço, tempos bons hão de chegar!
beeijo ;*
Que intenso Camila. Li, cada trecho complexo como leio as linhas dos meus melhores livros, e aliás, se for publicar um, serei uma das leitoras assíduas. O texto me envolveu de forma surpreendente, que até eu desconhecia Camila, obrigada por despertar este lado em mim.
ResponderExcluirBeijos e boa semana !
Como sempre seu textos lindos Camila, forma bela de escrever e ainda mais para uma amiga, sorte a dela
ResponderExcluirhehe
Beijosss
E mesmo :)
ResponderExcluirAcho que estou na fase da sacola. Acho que quando sair vai ser lindo, mas você fica tanto tempo presa que quando sai é um animal selvagem de quem todos sentem medo. De quem você sente medo. Enfim, que texto, de novo! :D
ResponderExcluirÉ incrível, a cada texto que leio fico mais admirada com o dom de escrever que tens.
ResponderExcluirMe sinto assim.... o vento me tirou pra dançar mas eu não consigo acompanhar o ritimo.
Sou fã, já sabe né?! *.*
Nós agradecemos por nos encaixar em cada palavra.Lindo texto.
ResponderExcluirUm beijão.
Camila, adorei o texto. Sou apaixonada por palavras bem colocadas. Tão incrivelmente real e ao mesmo tempo mágico. Assim que deve ser. Seguindo :*
ResponderExcluirFlor, flor...
ResponderExcluirTinha passado um tempo sem passar por aqui....
Como sempre, amei...
"borboleta que confundiu sacola com casulo, e o vento tirou pra dançar."
Amei...
Nós duas sabemos bem o que essa fase às vezes tão contida e vazia da gente, lá na frente mostra livre seus caminhos e um sol lindo que ainda brilha em nós. Fico sempre comovida com o que cintila nesse nosso céu da vida. Ficou lindo. Que bom é saber que nesse caos da vida existe alguém que está ali do lado, sentindo tudo com a gente, não é Drika? Lindo flor, parabéns!
ResponderExcluirBeijinho.
é uma garota que traceja sua própria existência.
ResponderExcluirLindo, muito lindo! Textos lindos assim nao tem nem o que comentar, perfeito! *.*
ResponderExcluirUm beijo!