E se viva, como veria todo esse alvoroço à sua volta? Com temor, ou algum contentamento? Frases clichês, fragmentos esdrúxulos, trechos que não a pertencem levando seu nome e assinatura redes sociais, trabalhos de faculdade, presentes com cartão e dedicatória país afora. Para quem leu, e é admirador há mais de anos, um nojo. Realmente desgostante. Eu, que por volta dos quinze anos (ou seja, há quatro), me vi iniciada numa leitura capaz de fazer submergir por horas, habitar temporariamente outras galáxias, uma realidade inexistente, porém, impactante de tão detalhada, hoje quero continuar gostando da sua literatura, Clarice, mesmo que um mundo clichê me faça ter náuses e um pouco de ciúme por não saber ser apaixonado da maneira avassaladora como seriam, caso realmente lessem suas obras. Se consideram fãs do que conhecem apenas superficialmente - porém, infelizmente, essa é uma das ressalvas do mundo atual. Duvido que você fosse simpatizar.
Enfim, ao invés de sentir uma felicidade possível em ver seu nome na boca do povo, nos sites e jornais locais e de demais estados, é a perplexidade desse saboreio frívolo a única coisa que consigo sentir. Que, mesmo após esses trinta e quatro anos, pessoas leiam e consigam apreciar um texto inteiro seu, no lugar de apenas se apaixonar por uma frase amputada. Que amanhã, ao comemorarem seus noventa e um anos (prefiro os números escritos em extenso, é mania minha), quem realmente é adicto da sua literatura a explore da rica maneira que só consegue quem tem sensibilidade suficiente para suportar: lendo-a inteira, não apenas em aplicativos ou nas errôneas junções de palavras que pelas suas frágeis mãos não foram escritas ou datilografadas. Tão logo acaba esse modismo de querer conforto no desconhecido, disseminando por aí o que mal conhecem, elegendo como "escritores favoritos" de temporariamente algum outro que pareça dar conselhos por meio da escrita, e volta a paz em torno daqueles que conseguem contemplar com destreza uma literatura preciosa, pensante e na qual a gente se inunda e mergulha com prazer. Singularíssima, excepcional. Absoluta.
Homenagem merecidíssima! E muito interessante o apelo que você fez, Camila. Que se conheçam os livros e não apenas resumos, frases, metades. Parabéns!
ResponderExcluirÉ, sempre fui fã de Clarice. Sempre me emocionei com cada palavra, com cada texto , com cada livro e com cada exposição que fui(duas somente)! Ela é fantástica, falo no presente, porque é , para mim,como se ela ainda estivesse aqui e, depois de um texto teu como este que és também amante desta diva, não tenho muito o que falar. Agradeço por prestigiar ela merecidamente e por seu apelo, é triste este modismo corrompedor da arte que é a literatura. Espero que os amantes do bom , velho e grosso ( ou nem tanto ) livro não se acabem. Um beijo, você é uma querida a cada dia. ps: antes não era de comentar nos textos, mas um dia visitei teu twitter e vi que como eu outros mais não comentavam e isso te desmotivava de certa forma e enfim, tu mereces todo o elogio e toda forma de agradecimento, por assim como Clarice saber usar as palavras.
ResponderExcluirTexto excelente! Uma boa homenagem , e que muitos que vivem da "Clarice fragmentada" leia esse texto e possa ter o incentivo de ir a fundo em suas obras!
ResponderExcluirGrande beijo!
Assim como o texto em homenagem ao Caio, perfeito. Confesso que conheci o trabalho dos dois pela internet, maaas, logo fui até a biblioteca e li exemplares de ambos. Não se pode conhecer a fundo ou declarar amores por uma frase - tão significativa mas também tão fora de contexto. Me irrita isso na música também; diga que gosta, mas procure saber de quem fala antes de se intitular aos quatro cantos como "fã". Lindas, instigantes, expressivas; sim, frases de Clarice. Quando se gosta realmente, se tem sede, procura-se conhecer o máximo possível, não é? Que assim o façam cada dia mais tantos "fãs", seja do que for.
ResponderExcluirÓ eu gostando, te admirando e lendo sempre mais. haha :)
Beijo, Camila!
CARA, SEU BLOG É DEMAIS!!
ResponderExcluirAMEI
Realmente é cansativo ver como as pessoas que nunca leram obras inteiras vem com aquelas frases avulsas dando uma de reais admiradores, tsc tsc. E ela é digna de intermináveis homenagens, quantos pensamentos impecavelmente colocados no papel..
ResponderExcluirMinha paixão por Clarice também é de anos. Incrível como admiro a obra que ela nos deixou. Seus livros falam com minha alma. Bem, ainda bem que ela partiu sem ver essa vulgarização que seu santíssimo nome se tornou.
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirClarice é um ícone. Escreveu de corpo, alma e coração, ainda que envolta de tantas dificuldades. Ela foi, é e sempre será uma mulher inteira. Metades, com certeza, nunca fizeram e/ou farão o seu "tipo". Potanto, me aproveito da deixa deste texto e imploro: conheçam suas obras - lindas, por sinal - antes de sair por aí citando uma ou duas de suas frases que, às vezes, nem são tão suas.
ResponderExcluirPortanto* rs
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