E aguardo. Porque chego cedo demais e me sinto sempre mal com a correria do atraso. Pego uma Época, leio alguns títulos de matérias da Superinteressante. Esses dias até espiei de cantinho a Ana Maria Braga. Uns fofos aqueles bebês, não teve como não. Eu só quero subir, entrar pela porta bamba e ouvir a música ambiente de rádio antiga, dessas que toca o elevador. Quando é a minha vez, toca um telefone interno e a moça da recepção diz que posso subir. Estranho a escada, extremamente vertical e quase em caracol ritmada pelas canções velhas, mesmo já tendo pra mim todas as segundas-feiras, às 9h, um horário pra chamar de meu. E eu subo infinitamente enquanto o sapato solavanca e a ouço a porta abrir e é sempre um oi meio desajeitado porque é como se tivesse adentrando para tratar, por 60 minutos que sejam, algo que estrago sendo impulsa, ansiosíssima e compulsiva dessa vidinha.
Primeiro, ela me olha com as sobrancelhas mais fechadas que abertas, pergunta como quem não quer nada como tudo anda (essa minha desordem que intitulo vivência), solto aos poucos a manivela e vou-me indo a desandar em palavras, quase sempre choro. Uma porque sou sensível ao extremo e às vezes nem me dou conta quando de repente rolam lágrimas entre chegadas e partidas. Sei que o olho sempre se abastece; e eu sinto a pele mais molinha, os pensamentos singelos, mas cobertos por sentimentalidade. De repente estamos devaneando sobre como acho que não me importa lá muito a opinião alheia mas na verdade é de muito apreço o pensamento de vocês sobre o que escrevo, como me visto, o que farei eu se não jornalista? Bem, ela diz. O que eu quiser, olha só. São só vinte anos e um futuro pela frente em que eu preciso aceitar uma quantia gorda de felicidade agora. Nesse minutinho que tá passando enquanto eu perdi escrevendo a frase. Foi.
A sala tem uma poltrona, onde me sinto totalmente em casa e uma almofada, a quem dou colo e não raro banho com meu pranto infantil. E os lencinhos em que aperto muito com as mãos e dobro até ficarem minúsculos ficam ao lado, numa espécie de mesinha também pequena. E eu olho pra ela e nem sempre sei o que dizer, pra logo em seguida emendar um assunto que não fui capaz de desenvolver nem mesmo com a mais íntima das minhas amigas. E é incrível a habilidade da moça em me questionar coisas que, por medo, incapacidade ou intolerância mesmo eu nunca cheguei a questionar. E saio de lá mais leve e pronta pra começar uma nova semana porque a partir dali, não todas as gavetas dessa minha muvuca que eu apelidei de "humilde existência". Aos poucos dá pra ir faxinando tudo em seu devido lugar. Daqui a pouquinho eu troco a poltrona de lamentações por algo sólido que me faça operar mudanças para ir lá e contar quantos sorrisos dou por sessão ao invés dos problemas, um atrás do outro, que compõe o dia-a-dia e clareiam um pouquinho a cada sete dias. Suficientes.

Adorei o texto Mila. Lindo como sempre! Não sabia que tu fazia terapia.
ResponderExcluirbeijos,
Taí uma coisa de que preciso. Mas minhas duas experiências anteriores me fazem não querer mais, ainda que precise. Quem dera encontrar um/uma que permita-me sentir confortável com a ideia.
ResponderExcluirQuando vou pra psicoterapia é mais ou menos isso que acontece, algo em mim se transforma,eu me transbordo em palavras, não escritas, mas faladas. Coisas que eu nunca me imaginei falando e isso faz um bem danado.
ResponderExcluirBeijos
Esse foi o que eu li e mim diverti de verdade. Mim passaram o link e eu realmente gostei, mim identifiquei.
ResponderExcluirhttp://trezedigitos.blogspot.com.br/2012/12/quinta-feira-13-de-dezembro-ta-chegando.html