Meu amor por Paulão começou por
acaso, em época de Copa do Mundo, no meio de uma rua lotada, em minha cidade
natal. Uma loucura dessas que a gente nem dá muito crédito inicial, mas se
endivida no fim das contas todas. Era desses que fazem a gente perder o tino,
esquecer as horas, faltar compromissos e adquirir – ou, meu caso, reavivar – um
senso de urgência até então amortecido pelo tédio de uma capital onde já não
havia mais canto algum a desbravar. De porte tão graúdo quanto o meu, as mãos
estupidamente largas e uma ciência sobre
os mais diversos temas que me fez, desde sempre até então, trocar o fosco já
cansado dos olhos pelo brilho de um verniz novinho em folha.
Dono de si me abraçou num
aeroporto de Guarulhos lotado e mostrou o bom e o melhor da megalópole com
pinta de anfitrião. Em cinco dias, já era uma apaixonada por cada rua,
estacionamento, bairro, restaurante, museu e até mesmo congestionamento dessa
cidade que é mais eu que ele mesmo. Ele falava de um turbilhão eu formato de município,
da miscigenação de todos ao mesmo tempo em tudo quanto era lugares, da caridade
de táxis – mas, da generosidade dos metrôs. De museus incríveis, avenidas
descomunais, prédios estupendos e a vivacidade de uma cultura misteriosa,
indefinida. Seco e cético, mesmo me
vendo chorar o equivalente a umas três Cantareiras, não despejou lágrima alguma
na primeira despedida (“alguém precisa ser forte aqui, querida” – e, soube mais
tarde, receptor de tantas nordestinas, capixabas e sulistas, aprendeu na marra
a aguentar o tranco).
Logo minha paixão por nossa
paixão mudou de essencial e volumosa para um carinho terno e sempre desses de
encher o coração de sorrisos mentais. Eu
comecei a explorar ainda melhor esse centro de tudo e todos quando me vi
sozinha e sem rumo num horário de almoço pelo Itaim Bibi. A partir daí, apenas
consegui me encantar ainda mais com pedaços desse santo que, mesmo distante, ficou
com uma versão minha mais ingênua, menos idealista e acomodada que deu lugar à
loba solitária que, depois dele, todas se tornam. O homão fez questão de sair de cena no momento exato para que, então, conhecesse apenas Paulo. Nada possessivo, me apresentou aos mais diversos protótipos de homens, guris, mirins; rapazes, paulistas ou mineiros, médicos ou analistas. Fez com que eu aprendesse a andar com sombrinha na bolsa, a passos largos e de antes acesíssimas - pode sempre pintar uma garoa, um assaltante ou qualquer conhecido de quem a gente queira distância.
Paulão foi gota d’água e também
desespero, apareceu na hora errada, mas continua fazendo alguma coisa fresca sempre
acontecer no meu coração: seja indo buscar ou deixar alguém em Congonhas, a
caminho de conhecer os parentes que eu nem sabia existir que já vivem na
metrópole há anos, caminhando a av. Paulista sozinha com uma mochila nas costas
num sábado à tarde escaldante. Ele envelhece a cada dia mas permanece com o
mesmo ar de moleque, esconde sua marginalidade em camisas sociais bonitas,
construções contemporâneas, estádios de futebol lotados e feiras "de quinta ou de terça". Eu sigo mais urbanoide que o habitual, contagiada pela pressa dos passantes, amiga agora de Augusta, Angélica e até da idosa indecente que é a Consolação. A gente nunca mais se viu mas quem me encontra por aí diz que o olhar se tornou ainda mais lustroso e depois desse affair, apenas floresci em meio a tanto concreto. Eu acredito.
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