Cerveja,

8.13.2015 -
Colagem de Eugenia Loli


Me identifico quando a Amy cantarola "I cheated myself like I knew I would”. Também tenho o costume de ser perita nessas arapucas de me auto-enganar: certa vez, criança, lembro do copo de líquido amarelado demais em qualquer festividade familiar na casa da avó. Ali solitário, sob o braço de madeira de uma poltrona qualquer, solitário. Seria Guaraná? Bebia pouco refrigerante, comia muita banana desidratada e meus medicamentos para bronquite e rinite eram todos homeopáticos – a tendência hippie de papai e mamãe já latejava nesses tempos. Contudo, lá fui eu com meus cinco anos de idade experimentar aquele xixi sem bolhinhas, estupidamente gelado. Amargo. Ruim. Adultos, por que vocês bebem cerveja? Era ela a estrela dos pais nas festinhas infantis, era com algumas dessazinhas que meu pai costumava voltar do mercado na sacola. É com esse vício que preciso romper, de uma vez por todas, ainda que, temporariamente.

Preciso de um tempo. Desses que cafajeste oferece pra ver se fica bem sozinho. Tenho treinado o exercício de abrir os olhos pra sensação póstuma de algumas escolhas, incidentes, situações. Que aliada é essa que me incentiva a falar alto demais, apertar send em mensagens inapropriadas, chorar de desabafar com estranhos nos botecos? Amiga boa é amiga que quer ver a outra no caminho do progresso, e não aquela que liga pouco demais caso a outra esteja ganhando bordas de catupiri nos quadris e entalando no tobogã das noites. Como toda camarada autodestrutiva, sua presença leva pra longe as burocracias chatas de somam horas da minha tarde, mas também me envergonha em público pra se fazer notável. Não vejo jeito de seguirmos tão próximas daqui em diante, loura.

Vai ser péssimo, é provável que fique complicado sentar nos bares da região e observar outros e outras em êxtase junto a você, a troca de ideias frenética que proporciona, o corridão que dá nas mais tensas inibições. Talvez eu fique acanhada e vá cedo embora, será compreensível caso me sinta excluída de uma festa a qual todos são convidados vip's. Porém, preciso me lembrar que sem ansiolíticos, cafeína e chocolate não pulo da cama tão cedo. E que misturar duas drogas faz efeito pior que flertar com ciclano enquanto pensa desesperadamente em fulano. Focar o pensamento com todo o esforço disponível em acordar bem, ter acesso às memórias da  última madrugada e, importantíssimo: controle sobre mim mesma - arianíssima que só, por que diabos deixava alguém tão vulgar quanto você comandar as batalhas por aqui? Chega, chega. 

Há amizades que, por mais deliciosas, mais nos intoxicam que desabrocham flores; com o passar dos verões, sua companhia me trouxe alívio e energia, saciedade e bons motivos para comemorar ou esquecer as surras do cotidiano. Contudo, eu e minha sede bom vivant fizemos secar as boas doses e começamos a pender para o desequilíbrio: cada vez mais cerveja, uma obsessão por provar de todos os tipos, a seca na garganta maior e mais abissal trago pós trago. A visão de parentes próximos que acabaram à mercê de apenas um companheiro perigoso gerou medo. O tamanho do meu apreciar cada gotinha fez pretear pensamentos e cortar falas, pesar atuações e sumir vergonhas.
Foi bom enquanto durou, querida. 






1 Comentários:

  1. Cami linda! Que LINDO tá aqui! Amei!
    Demorei um tanto a gostar de cerveja sabia? Gosto mesmo das de trigo, tem um gostinho melhor.
    Mas não é sempre que bebo, por causa disso, dessa falta de controle. Bebo como se fosse água, daí só dá merda noutro dia. hehe

    Melhor ficar só no café mesmo. Mais seguro.
    Um beijo.

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