Ainda não

5.17.2016 -


Ah, ontem foi ótimo. É, ele é bacana. Gosto de virginianos. Sabe, eu tava no Bullguer e fiquei até meio em dúvida se ia ou não. Tinha feito a tal entrevista em inglês, tive que voltar e tomar banho correndo, tinha que ajudar a Mari antes de encontrar o pessoal pra jantar. E depois o tal date. É date que chama quando a gente vai sair com uma pessoa que não vê há mais de ano, mas já pegou? E tinham dito que paixonite de carnaval não dura. É, mas ainda não rolou.

Ele ligou, insistiu. Eu tinha comido o hambúrguer mais sensacional de São Paulo, de frango e com cebola roxa. Vai, eles disseram. Contei do fora horrível e do boy que levou a sério uma gravidez jamais cogitada. Narrei direitinho os outros barcos furados que dei pé, corda e âncora pra me enfiar. O povo teve que ir indo. Ele tava à caminho. Um amigo esperou comigo, fofo, né? Ali ele, ó. Fulano, esse é ciclano. Ciclano, esse é fulano. Calma, calma: ainda não é agora.

Fomos no Empanadas. Era quarta, dia de futebol. Quer ficar virado pra tevê? Vamos trocar então. No mesmo emprego? Ah, eu sai de lá, zero chance de crescimento. Um pessoal ótimo, mas uma galera escrota também. É, sou bem doida de largar tudo pra investir nuns lances próprios. Me arrependi de ter voltado pra cidade onde cresci, pra um quarto que nem meu é mais, pra casa dos pais. Eu jurava que ele era de Londrina, ele tinha certeza que eu já era formada. Pois é, mas ainda não é agora.

Daí vem a melhor parte. Chocolate, morango com champanhe ou Cosmopolitan? Ele compenetrado pra fazer um trabalho manual digno da viagem. O beijo surpresa no meio da calçada da Vila Madalena. As trocentas voltas sem rumo pelas ruas da Zona Oeste. A mão dele, enorme, pressionando a minha. Aquela química que ficou esquecida numa caixa em um porão qualquer do ano 2015, ainda mais incandescente. Os dois apagados no carro, em frente ao meu prédio, na Itapicuru. Acha que agora sim, certo?

Não, que nada. Surpreendentemente, ainda não. Vinte e quatro anos na cara pra perder a virgindade que é se divertir deliciosamente de roupa. Tão acostumada a ser vista como pedaço de carne, até estranhei alguém a fim de almoços e cafés pra também provar das minhas ideias. Daqui a pouco, daqui a pouquinho, sim.



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