Vocês, os rasinhos

6.11.2016 -


a minha geração é ridícula. melhor: sentimentalmente ridícula. além do medinho trouxa de se comprometer, rola uma despreocupação com o outro que me tira do sério. nada de "e se fosse com a sua irmã, gostaria que um cara a tratasse assim?". não, é aquilo: ela, ainda que pronome pessoal feminino e da 3a pessoa, é gente. só ouço amigas reclamar dos sumiços, dos absurdos e das babaquices que escutam, vivenciam, desesperançam. quando foi que repartiu a alma em tantos pedaços que esqueceu a delícia que é estar ali, inteirinho?

é bizarro. eles se partilham entre três ou quatro garotas pra não se entregar por inteiro pra uma só. como se fosse crime. tal qual ainda beirasse o ridículo ou cafona demonstrar afeto, sentir carinho, gostar de segurar a mão na rua. uma pergunta simples, como: "você tá solteiro?" se torna o maior dos trampolins pra que o próprio tropece na própria fala. tem uma garota, lá. mas assim, nada sério (ou seja: ainda quero ver você pelada). "só que tem essa mina e umas outras no rolê, como você, certo?" - errado, um equívoco; há muito já cansei da brincadeira sou-de-muitos-pra-não-ser-de-ninguém. meu limite de maturidade não é aceito pra adentrar esse playground.

prefiro mesmo a delícia de separar o kit e pular pra dentro do mistério alheio, sem receio, ojeriza ou parcimônia. acho sexy conhecer família, acho incrível acordar ali ao lado, com bafo matinal, acho importante desvendar horários, maus hábitos e esperanças que a criatura com quem trocamos fluídos carrega nas horas vagas. e acho, também, de uma bundamolice tenebrosa esse lance que inventaram pra que a gente obstrua a passagem de bons sentimentos e segure o máximo o muro das decepções intactos. se todos desencantarão, hora ou outra, pra que tanto esforço para se mostrar suficiente, gélido, fechado para balanço? sério, além de covardes cês são uns panacas.

a minha geração não nota o papel de idiota que segura firme pra reiterar que é livre, é desapegada, é incrível sozinha. é emocionalmente rasa, é feita da falta de flerte, da inexistência de trocas e da extinção dos namoros longos e respeito pelo que passou. todos insubstituíveis, enquanto teclam superficialidades e combinam rolês que furarão no dia seguinte. todos ocupados demais para responder mensagens, receber (& dar) carinho, olhar menos para o próprio umbigo. ser frio é o novo kitsch, contem a eles antes que seja tarde, jovenzinhos que amam signos.


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