Pode ser numa manhã ensolarada, mas com frio na sombra. Ou nos dias em que me obrigo a pegar a lotação úmida com cheiro de cachorro molhado, guarda-chuva no chão, sapatilhas encharcadas. Nos chega sem pedir licença, nos toma a mente e entorpece sem que a gente perceba. Delírio, sangue pulsante, voracidade. E eis que por pensar em ideias inexistentes, ou mesmo por visualizar malícia onde não existe, nhac. Imprudente aos tentadores segundos de fúria e imaginação exacerbada, cega da fantasia de nem mesmo saber bem o que, mas ainda assim, ter medo de que, quem a gente pensa que nos pertence, esteja se auto emprestrando por aí: enciumamos.
Toda e qualquer mulher que se aproxima - e não for da família (ou mesmo sendo uma prima distante e de idade aproximada) - se torna alvo. Passamos a desacreditar a amizade entre homem e mulher. Silenciamos frente à alguns amigos com quem conversávamos bastante, preferimos que nossa melhor amizade, seja também quem nos possibilite amor. Fervorosamente, nosso desejo secreto é de que, qualquer piranha que pense em chegar perto do que (pensamos nós, é claro), nos pertence, tenha seus cabelos queimados, sua voz emudecida e o corpo paralizado. Até morte, em casos gravíssimos, cogitamos. E nós, mulheres, quase damos início à 3ª Guerra Mundial. Atiramos indiretinhas cheias de mensagens confusas nas entrelinhas. Temos o dom de fazer com que a acidez de ironias premeditadas nos tragam a lerdeza das respostas que já sabemos quais são. Como assistir a quem tente um contato, a quem tenha participado de quando a gente ainda nem existia dentro da vida do outro, sem deixar que nosso alerta vermelho pisque, fazendo com que flamejemos não só de ciúme, mas raiva e ódio e zelo? Invejamos quem vê o dia inteiro quem queríamos nós, admirar. Nos sentimentos fiéis proprietárias do que nos pertence, do que ainda não é nosso, daquilo que um dia desejamos que seja do que nunca foi e nem mesmo será. Basta que nosso instinto alerte e naturalmente, feras paranóicas.
De repente, nos vemos contaminadas logo após entrar na veia o veneno desse sentimento obscuro e que, munidas de segurança e boa autoestima, nem deveria infeccionar. Se vai o bichinho, tão logo nos hostilizou. E enfraqueceu. Fez ruir a imagem maravilhosa que tínhamos de nós mesmas, instaurou o caos no relacionamento, precipitou opiniões fortes em palavras impensadas, de ambos os lados. Batalha travada, vitória de lado nenhum. Some novamente, para dentro do lugar indefinido de onde brotou, o animal minúsculo em comparação ao tamanho do amor que a gente sente. E no fim das contas, quem ganha mesmo é quem deixa que num abraço apertado, num braço dado a se torcer, na visualização de que, como é minúsculo essa teimosa besta que habita na gente e mesmo que por pouco tempo nos faz irracionais e assustadiços. Afinal, o que os olhos não vem, esse incômodo bichinho que se chama ciúme, inventa.
Ciúmes, ciúmes...vem desse jeito mesmo! Adorei o texto e a frase final.
ResponderExcluirÓtimo texto, como já é de costume!
ResponderExcluirRealmente o ciúmes é algo incrível. Delicioso se em pequenas quantidades, apenas para apimentar a relação; mas como tudo em exagero é perigoso, o ciúmes pode ser uma arma já engatilhada em nossas mãos, pronta para o disparo.
Como boa ciumenta que sou, sei exatamente o que é sofrer disso...
Mas, fazer o que, né? Quem ama cuida, às vezes até demais, mas cuida.
Parabéns pelo texto, guria. Que sua luz nunca deixe de brilhar!
O ciúme, se bem dosado, chega até a ser agradável.. Mas quando vira um sentimento meio possessivo é complicado. Em alguns casos o ciúme é tanto que quase não se é possível acreditar que aquelas duas pessoas estão mesmo em um relacionamento. Cadê a confiança, gente? Mas quem nunca foi mordido pelo bichinho, né não? ;]
ResponderExcluiradorei o texto, ciúmes com o que não é seu...tão tipico da minha parte.
ResponderExcluirhttp://saiadeflorbm.blogspot.com
P-E-R-F-E-I-T-O!!!!!!!
ResponderExcluireu li e adorei.
é assim mesmo que acontece.
tudinho verdade. rsrsrs
me enxerguei, mais uma vez, em suas belíssimas palavras.
amei muito. tão bom vim aqui <3
ResponderExcluiressa foto é perfeita. esse texto é divino.
ResponderExcluirEsse texto diz tudo! Parece que ficamos vulneráveis a tudo (ou quase tudo), e quando achamos que tem outra querendo tirar o que é (ou achamos que é) nosso, o ciúme toma conta. Sou muito assim, e apesar de ser muito ciumenta, tem um porém que me agonia: não demonstrar muito pra não parecer fraca e ridícula.
ResponderExcluirJá falei que adorei, né? Um texto pra se encaixar em qualquer pessoa, sem dúvidas. Só não melhor que o 'Mulher pra outra vida', que tá nos meus favoritos pra ler ao menos duas vezes por mês.
ResponderExcluirBeijos, bom novembro.
Ah, eu desacredito na amizade pura e inofensiva de homens e mulheres heteros. Um dos dois sempre já vai ter pensado com segundas, terceiras(...) intenções!
ResponderExcluirDessa vez tu pegou pesado moça!
ResponderExcluirMe descreveu totalmente! E chega a ser feio o tanto que a gente pira com essas coisas. =/
Ótimo texto!
=*