"Eu quero fazer silêncio; Um silêncio tão doente do vizinho reclamar" - Chico Buarque
O nada chegou assim que o tudo se foi. Como trem que vem, um logo após o outro. Lento, vago e esvoaçante; com alguma medida em que cabia exatamente toda minha existencialidade. Larguei a mão de ser sempre tão qualquer coisa que completasse meu dia-a-dia, e decidi me deixar fluir com essa nova perspectiva mundana. Tão deixou pra estar. Estou renovada, ainda em branco, prestes a ser escrita. Sem vazio, nem copo meio cheio. Imensa, sim, a vontade dos dias que vem, de que as coisas aconteçam. Como um apostador de elite, e sapiência, na hora exata. Apertar o gatilho e trocar de marcha quando tiver assim que ser. Quando chegar o momento, o nada então na bolsa, dentro da carteira: carregado comigo pra quando precisar, emergências Simplista que é, o nada me trouxe certa paz, e muita harmonia. Descontei toda minha urgência no esvazio que era ser inteira em tudo, e de repente, eu mesma sentada com o aspecto da maior indiferença possível postado no rosto. Quem sabe, algum sorriso no canto da boca, ensaiado. Não mais no olhar o semblante arrasado, de meses atrás. Muito pouco, nada.
Olhava pro céu, e via só estrelas, ao invés de costurar constelações, e marcar planetas. Escutava músicas, e conseguia prestar atenção na letra de forma didática, e não romântica. Se arrumar para si, reaprendi. E o nada ali, por osmose, ligação iônica e totalmente valente. Vezenquando, telepatia. O nada fez um puta favor pra mim: me apresentou uma prima distante, a nenhuma. E quando as pessoas vinham cheias de aflição e ansiedade em minha direção, era sempre as mesmas respostas quase decoradas: nenhuma novidade, nenhuma sensação, nenhuma culpa. Periodicamente, pratiquei o nada mais que sempre. Na ponta da língua, sempre meu novo pupilo como resposta: Que tu tem? Nada. Quer mais alguma coisa? Nada. Que fez ontem? Nada. Fiel companheiro tanto no caminho dos zilhões de compromissos diários, dos leões a serem mortos a cada vinte e quatro horas, como nas manhãs em que durmo até tarde, com nenhum sonho, ninguém para pensar.
Houve o ninguém também. Mas o este magistral, apareceu pouco - só em voz. O bom é que o ninguém muda. E não me faz muita companhia. Condecora minha vivência quando comigo, e se vai sem nem avisar o horário ou data. Visita a cada dois ou três dias, e sempre que vai deixa certo alívio. Antes um ninguém completo e grandioso, a um alguém que existe, e não me dá gosto aos dias, sabor aos minutos. Adotado o nada como meu mascote, vejo só lucro, no horizonte: não conto detalhes da minha vida, falo menos, penso muito e me exponho pouco. O nada que veio mostrou um caminho pro tudo que nem ele sabia ser possível: aqui dentro, internamente. Eu, e o tudo. Reaproximação, casamento bem sucedido. Daqueles que um quase se torna o outro. Me tornei meu tudo, e me deixei nadar no que a vida oferta, em cada oportunidade misteriosa à mim destinada.
Não quero o nada específico, nem ninguém em especial. O que vem até nós sim, seja o tamanho que possua, é possível, é pleno. Se torna essencial.

Texto sensacional! Sem dúvida nenhuma entrou pra minha lista dos preferidos (que só cresce, haha).
ResponderExcluirMe senti completamente descrita nesse trecho:
"Adotado o nada como meu mascote, vejo só lucro, no horizonte: não conto detalhes da minha vida, falo menos, penso muito e me exponho pouco."
Na verdade me identifiquei com o texto todo. E acho que muitos dos teus novos pensamentos fazem parte de um processo inevitável de maturidade.
Lindo!
=*
O que posso dizer desse texto? ficou magnífico! inteligente, bem escrito e criativo. também adotei o nada, o ninguém e nenhuma. me sinto igual a você. beijos sua linda, sem palavras pra ti, tu é foda
ResponderExcluir"não conto detalhes da minha vida, falo menos, penso muito e me exponho pouco. O nada que veio mostrou um caminho pro tudo que nem ele sabia ser possível: aqui dentro, internamente. Eu, e o tudo."
ResponderExcluirPelo pouco que eu sei que tu andou passando nos ultimos meses, fiquei muito feliz ao ler esse texto, mostra que tu reagiu, o NADA te ajudou nisso ne! rs
E espero que esse seu novo estado de espirito, que essa paz permaneça contigo!
Nem sei mais o que dizer, texto fantastico!
Beijos flor
Incrível,por estar perfeito e por ser algo que me identifiquei muito mesmo! rs
ResponderExcluir"Simplista que é, o nada me trouxe certa paz, e muita harmonia." esta, com que eu mais me identifiquei!
Sei bem, como o nada, as vezes é muito libertador.
Lindo!
Beijos!
Passei praticamente um ano nesse estado, e hoje vejo como era bom! Eu era feliz por mim e somente pra mim; mas a vida as vezes insiste em substituir o ninguém por alguém bem determinante!
ResponderExcluirBeeijo ;*
Boa semana
Que tudo esse post! Amei!
ResponderExcluirFaz tempo que tenho o nada na minha vida, me fez um bem danado.E como você disse:
"Me tornei meu tudo, e me deixei nadar no que a vida oferta, em cada oportunidade misteriosa à mim destinada."
bem assim.
Você é fantástica, guria!
beijos!
Muitas vezes precisamos passar por essa fase do nada, nenhuma e ninguém para reflertimos.É como dar um tempo em um relacionamento, mas nesse caso uma relação entre nós e nossa vida.Uma das conclusões que tiramos do nada, não sei se boa ou ruim, é que muitas vezes um nada é melhor que um tudo, um ninguém mais confortante que alguém.
ResponderExcluirVivemos a procura de pessoas e acontecimentos que que nos façam menosprezar esse momento da vida de se querer ou ser obrigada a se submeter ao nada e ninguém.
Lindo texto Camila.Representa um momento bem recente da minha vida.
bj!
Se eu disser que ficou maravilhoso vai virar clichê né Camila, haha. Meu, parabéns. Admiro muito você e a sua capacidade absurda de escrever tão bem. Me identifiquei super com esse texto, pois o nada me acompanhou durante essas últimas semanas. E talvez hoje ele divida um espaço com o talvez. Você é maravilhosa, parabéns pelas palavras :*
ResponderExcluirquase enfartei quando vi seus comentários me meu blog.
ResponderExcluiruahsuasuasuahsuha
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"E o nada ali, por osmose, ligação iônica e totalmente valente."
isto me lembrou minha recu de química terça .
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"Antes um ninguém completo e grandioso, a um alguém que existe, e não me dá gosto aos dias, sabor aos minutos."
Suas palavras são sempre encantadores, você trouxe á tona uma nova visão do nada, visão esta que eu até então desconhecia.
Meus Parabéns!
Eu pratico o nada mais que sempre também.
ResponderExcluir"Na ponta da língua, sempre meu novo pupilo como resposta: Que tu tem? Nada. Quer mais alguma coisa? Nada. Que fez ontem? Nada. Fiel companheiro tanto no caminho dos zilhões de compromissos diários, dos leões a serem mortos a cada vinte e quatro horas, como nas manhãs em que durmo até tarde, com nenhum sonho, ninguém para pensar."
É tenso. Mas pelo menos não doi tanto..
Muito bom, moça.
BjO!
Eu penso que o nada em algumas vezes pode ser bom, aprendizagem, já passei por isso e hj eu sinto como amadureci
ResponderExcluirbeijosss
Flor, este é um processo extremamente importante, o de se encontrar e se acalmar e vc, como sempre, soube tratar disso com uma propriedade ímpar!
ResponderExcluirTexto magnífico! Parabéns.
Beijo!
Oii..
ResponderExcluirFinalmente meus pais voltaram..
já estava morta d saudades deles..
hehe
e pior é que nem ligação, nem e-mail, nem carta akbava com a saudade, teve que ser ao vivo e a cores msm!!
rs
Boa semana p vc!!
Hoje acho q posto akele texto que copiei semana passada de vc (Não)!! rs
bjin =*
Texto maravilhoso.
ResponderExcluirÉ como eu to vivendo sabe?
o silêncio tá incomodando todos, sempre fui de falar muito, e até os vizinhos reclamam: poxa, cadê aqueles forrós andressa?
cadê os pagodes? e os los hermanos?
sempre foi uma mistura doida de gosto musicais, mas é fase.
eu espero.
beijos minha flor ♥
"Me tornei meu tudo, e me deixei nadar no que a vida oferta, em cada oportunidade misteriosa à mim destinada.''
ResponderExcluirToda vez que passo por aqui é como uma terapia, e olha fazia tempo que eu não vinha meditar hahaha..
Como sempre ótimoo.
Nossa, como você faz isso?
Encaixa cada pedacinho dos meus pensamentos,?
Quem me dera escrever assim.
Parabéns linda.
é a verdade, a vida numa plena nostalgia, sem graça, e agente nem espera nada, o que vier tá bom, vai se tornar essencial..
ResponderExcluirBeeijO linda
"Não quero o nada específico, nem ninguém em especial. O que vem até nós sim, seja o tamanho que possua, é possível, é pleno. Se torna essencial." isso tem sido tão eu ultimamente. Adorei! :D
ResponderExcluirLi o texto e senti o seu alívio exaltado mas tanto uma película do que ainda te faz menos feliz. Não triste, mas apenas menos feliz. Às vezes esse silêncio vai ficando dentro da gente, mas pode ter certeza que lá na frente entenderemos sua finalidade. Como silêncio que fui alguns dias, te compreendo tanto.
ResponderExcluir"...não conto detalhes da minha vida, falo menos, penso muito e me exponho pouco." Encontrei-me, encontrei-te. :)
Deixe apenas que tinta fresca, límpida e pura, enfeitem sua folha hoje branca.
Um beijo flor!
S-E-N-S-A-C-I-O-N-A-L! Como você pode escrever tão bem hein? Sou sua fã.. Parece que você escreve tudo aquilo que penso, existo.. Parabéns!
ResponderExcluirPERFEITO como sempre.
ResponderExcluirCamila escreve o que nós sentimos e não sabemos expor em palavras. Esse teu dom é muito lindo mesmo.
;**
Simplesmente sem palavras! Muito bom o post, bom não, perfeito! Como sempre me encantando com seus posts!
ResponderExcluirAdoro seu cantinho!
Bjinhos
Nina
Como sempre: belíssimo!!
ResponderExcluirbeeeijos querida
"Antes um ninguém completo e grandioso, a um alguém que existe, e não me dá gosto aos dias, sabor aos minutos."
ResponderExcluirBem assim...
Mais uma vez escrevendo pra mim. Obrigada!
É irônico o tudo escrever sobre o nada.
ResponderExcluirAté a minha egocêntrica compreensão foi desafiada por esse status atual da autora que sempre planeja o impensado.
O que lhe aferiu pelos caminhos nada dourados vai ainda ser o maior dos seus sorrisos de ano novo.
Se você celebrar a indiferença vai conseguir colher os frutos mais deliciosos do mundo. Será sempre mais notada, sempre será a dúvida, a interrogação que move e comove o planeta.
O verdadeiro romantismo não precisa de tantas abelhas assim. O mel está dentro de quem nasce doce.
Parabéns srta. Camila.
Uau!
ResponderExcluirArrasou,
mas é isso, vazio e dor..
mas mesmo nos sentindo vazios, estamos cheias de outros sentimentos.
Meio contraditório, mas é fato consumado!
bjs
a gente acaba descobrindo o que nos leva a ser essencial. Algo que mostramos ser essencial em determinada coisa.
ResponderExcluirVou começar a praticar 'O nada'... tenho ctz que vai me fazer bem! na verdade é mt facil falar.. mais vou tentar!
ResponderExcluirVc é encantadora Camila.. me Calmila sempre! :***