Rolê do "eu tô gorda" primaveril

9.24.2015 -


1. Acordei. Não tem pílula pra tomar, o que indica que daqui uns dois, no máximo três dias meu ciclo desse mês deva vir - se deus e o meu corpo cooperarem! Tomo um leite fermentado e ligo o computador. Enquanto a tela está preta e se prepara para inicializar, me vejo no reflexo e um grande estalo surge: tô gorda. Tô imensa. será que eu tô grávida?

2. Bom, agora que eu vi o tamanho todo que eu tô, melhor nem comer muito no café da manhã. A granola com mel e iogurte de aveia num potinho pequeno, tá ótimo. Esquece aquelas cinco bolachinhas integrais contabilizadas de toda manhã (sim, em número certinho pra que não ultrapassem as 200 calorias). Sério, como é que eu fui me deixar ficar redonda assim? Caraca.

3. Miga, sério, eu tô balofa. E oleosa; um pouco pelo calor, outro tanto pela minha propensão, aliada à franja curtinha - o combo da pele ruim. Mãe, por que diabos você não me avisou? Não deu pra ver no vídeo não? Duvido, sério. Ainda bem que eu não me peso há uns anos, se não, imagina só o desgosto dos numerozinhos aumentando, aumentando significativamente até quase explodirem. Tá explicado porque o Fulaninho não me quer.

4. Hora do banho. Sempre uma tensão a hora de despir o pijama, depois a calcinha e ter que lidar com o pedaço de barriguinha que nunca tive. Será mesmo que não é o meu fluxo sanguíneo que anda aumentado? Sabia que era pra abortar aquelas sobremesas todas da firma depois do almoço, são as ciladas da minha alimentação. Os doces, arqui-inimigos de um corpo de Yasmin Brunet que muito gostaria de desfilar por aí. Eu não tinha esses nacos de pele. Nem esses peitos enormes, credo. Tô gorda.

5. Preciso emagrecer. Sério, a próxima semana todinha vai ser sem qualquer chocolate na boca e no mini pratinho do almoço, apenas carnes magras, saladas e legumes, frutas para o lanche da tarde. Não posso me descuidar desse jeito, que desleixo. Quero ser chamada de gordinha? Não, óbvio que não. Querem coisa mais falsa que o adjetivo "fofa"? Eca. Na boa, eu preciso começar a acordar cedo, tipo 6h da manhã, e aproveitar o vazio da Paulista pra ir correr.

6. Tá decidido, é isso que eu vou fazer amanhã. Já vou ajustar o relógio pra três dias na semana e pronto. A grana tá apertada pra pagar pequenas fortunas numa academia decente aqui na Consolação. Melhor comprar um tênis e se adaptar a tanto suor, azar. Quem mandou ficar desse tamanho?

7. Olha essa celulite. Olha esse braço de padeira. Olha essa bunda de Kardashian. Incrível, miga, vai tudo pro traseiro. Como é que pode? Vê o meu irmão: dezessete anos, come e come, não engorda nada. Chega a dar vontade de sacudir pra que devolva a genética do bem que ficou pro segundo filho. É injusto, sabe.

8. Vou de vestido hoje. Que pavor colocar as pernas de fora depois de tanto tempo usando meia-calça dia sim outro também para ir trabalhar. Agora todos que me achavam gostosa vão descobrir que, na verdade, não passo de uma envolvente fraude. Agora sim é que não pego mais ninguém. Só se for rolando, claro. Há sempre essa possibilidade medonha. As roupas fecham, mas com esforço. Será que isso tudo é inchaço pré-menstrual? Posso estar à espera do Robertinho Jr. também. Tudo, mesmo ter ganho tanto peso assim sem consciência.

9. Lembra daquelas pipocas? Lembra daquelas caldas de chocolate puro? Isso, e aqueles bolos todos que você fez? É, queridinha. Comeu, engordou. Achou que ia passar ilesa porque se priva alguns dias por semana dessas porcarias todas? Nananinanão.

10. Na real, quer mesmo saber? Foda-se. Que se dane se engordei dois ou três quilos. Que vá pro espaço o que pensam as meninas do andar de revistas femininas ou o povo que pega metrô comigo todo santo dia no mesmo horário. Sigo com um cabelo de dar inveja, tão liso? Oh, yeah. Ainda me visto muitíssimo bem, gracias? Si, si. Os ossinhos do colo seguem aparecendo e são um charme? True story. Então, que se dane esse papo todo. Trabalhando tanto, correndo por aí em dobro e enfrentando um zoológico por dia, é o mínimo. Ou, como diz minha mãe: o que importa é que tenho saúde - pra dar, vender e tirar uns nacos de gordinha do antebraço, da papada, do culote, se possível, por favor. Brincadeiras à parte, os horários de corrida estão marcados e hoje lanchei peito de peru, queijo e mamão durante a tarde. Que ao menos o resultado dos exames de sangue esteja fit no próximo mês.



2 Comentários:

  1. Oiee!! HAHAHAAHAHHA eu ri muuuuito com o teu texto. "bracinhos de padeira". Eu estou passando exatamente por essa fase. Aquele dia em que voce pensa: "meu deus como cheguei ate aqui". Pode ser o desespero do "quase" verao. Muito bom teu texto, parabens. Beijinhos

    http://www.verdadeescrita.com/tatuagem/

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  2. Oi mana! Não vou comentar no anônimo pq sempre dou a cara a tapa hahaha
    Bom, eu adoro seu blog! Fico super feliz em ver sua evolução, melhor dizendo: sua desconstrução.
    Engraçado como as coisas mudam né? Sempre fomos alimentadas desse álter-ego de diminuir uma outra mulher para nos sentirmos "melhor", e de repente compreendemos que não somos inimigas, somos irmãs e filhas da revolução! Sobre o texto, posso pontuar algumas coisas que senti?
    Se me dá licença:

    Entendo a necessidade de certas expressões para passar a mensagem, seja para dar o tom de humor, seja lá o que for. Mas é importante entendermos: o que é ser gorda para a sociedade?
    Nós, numa grande maioria, falamos que estamos gordas quando, simplesmente, só nos passa três quilos a mais. Numa tradução mais simplificada: apenas fora dos padrões, mas não gorda.

    Falando disso, ser gorda não é defeito né? Empatia é importante na nossa militância e sobretudo, precisamos apoiar umas as outras. Sororidade se constrói com cuidado e zelo pela outra (ou melhor, outras) mulheres.

    Essa história de magreza = saúde é furada. Eu mesma, 15 kg acima do peso desejado, estou 101% em dia com a minha saúde. E mesmo assim, continuo apenas fora dos padrões, mas não gorda. Minha vivência é apenas de uma mulher, como qualquer outra, que sofre com as pressões machistas e misóginas de um corpo perfeito.

    O número 8 da lista seria uma tradução disso. Falar da Kardashian (e por consequência da bunda dela) é uma grande prova de como somos objetificadas, nossa sensualidade e nossos corpos são parte essencial do "servir ao homem". Acho que o mais interessante é SEMPRE rompermos com essa ideia, por quê não, primeiro, servirmos a nós mesmas, sem pensar "preciso ficar gostosa senão nenhum macho olha pra mim"?

    Não precisamos reproduzir e reforçar a gordofobia. É ilógico e cruel comparar nossa barriguinha e nossas celulites a, por exemplo, dificuldade de mulheres gordas em serem contratadas ou mesmo em encontrar LOJAS (nem digo numeração, mas lojas que as possam as contemplar), e aí sim, a grande barreira em ser aceita na sociedade. O olhar para essas mulheres é outro. A opressão também.

    Nós não precisamos disso mana! E eu, de forma alguma, estou aqui para te ofender ou te crucificar. Só passei para te dar esse alerta pois sei que, evoluídas que somos, sempre cabe mais um espacinho para a desconstrução. E é assim, na irmandade, que nós prosseguimos. Sem reproduzir discursos que ofendem as minorias. Que nos colocam nessa cilada da balança, da estética, do cabelo perfeito, enfim, dos padrões. Bom, acho que é isso. Sinta-se a vontade para conversar, vou adorar saber o que você pensa!
    Beijos!!!

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