Leave arianos alone!

6.14.2016 -

É sempre um pouco complicada a fase de transição buscando-apê-pra-dividir-fazendo-estrevistas-também, ainda mais numa cidade com as dimensões paulistanas. As duas coisas, por mais distintas que pareçam, carregam o mesmo saco de perguntas clichês necessárias para se conhecer alguém melhor: o que você faz hoje? Onde já trabalhou? Quanto pode pagar? Acha que merece ganhar quanto? E a temida questão que tem, acredito, me eliminado - qual o seu signo?

Já é das tarefas ardilosas ser ariana num mundo burocrático e vagaroso. As pessoas que caminham se arrastando pelas ruas, a demora em responder cartas, mensagens ou o pisca do carro à frente, a falta de iniciativa e a pilha de vontades acumuladas porque ainda não, porque agora talvez, porque deixa pra lá. A gente queima, enquanto o resto da humanidade pouco transborda e mais aquece em banho-maria. A cara séria nos faz mal interpretados e as palavras mal ditas e atravessadas, pouco entendidos. Mas temos bom coração, gente. Eu juro.

Não eliminem logo de cara a nossa energia e pressa, deem outro voto de confiança às nossas trapalhadas e sorriso fácil, infantil. "Satanáries?" uma dessas moças que selecionavam para viver ou trampar questionou. É só mais um estigma que a sociedade criou para evitar o pioneirismo e a sinceridade que a gente carrega, miga. Vai por mim. Por trás dessa lã emaranhada e chifre assustador, tendemos a ser ingênuos e cordeais. Corretos, e também fãs de lealdade.

Nos convença que vale o amor e o rebanho que você terá alguém ali pra ouvir os desabafos sobre o cara que sumiu e aquela promoção que não rolou. Veja mais potencial que problema no nosso raciocínio rápido que terá um empregado feliz, determinado e companheirão, capaz de ~matar e morrer~ pela marca, lucro, limpeza, criança ou gestão.

Vai, nos chame pra compartir panelas e sofá e a sala de trabalho. A vida é curta demais pra desperdiçarmos fortes emoções e tanta vontade de fazer dar certo!

Desse jeito, vai ficar sozinha

6.12.2016 -


Escrevendo essas coisas polêmicas, vai ficar sozinha. Ish, falando de homem então. E, na maioria das vezes, mal. Depois não reclama. Quer se meter a discutir política. Acha que pode chamar você o garçom. Sai com essas roupas que não tapam direito a bunda. Bebe pau a pau com os amigos. Homens. O tempo tá passando. Vai ficar sozinha.

Ah, tem essa de querer viajar sozinha também. Ganhar salários exorbitantes. Homem é inseguro. Imagina, vai casar com quem depois? Claro, por que não se unir em matrimônio com uma pessoa especial? Depois, os filhos. Se sair por aí falando que evita uma coisa e foge da outra, pegou a rota pra solidão. Vai morrer velhinha e cercada de gatos. Vai ficar pra titia, dessas que enche de doces e compra brinquedos caros. Escuta o que tô falando, depois não adianta chorar.

Fica falando de sexo. Fica fazendo reparos na própria casa sem ajuda masculina. Cogita adotar um bebê e ser mãe solteira, consegue chegar ao orgasmo sozinha. O ego deles é frágil, eles gostam de se sentir necessários, importantes. Pra quê dizer que frequenta umbanda e acredita em espiritismo? Tem que mostrar que sabe menos, lê pouco, se despila e resguarda. Cê vai lá e escancara justamente o contrário, deixa claro que ok, se não tem ele, tem outro ou tem um filme, um livro e uns chás e tá ótimo. Já te falei pra ser menos hipérbole e mais eufemismo, cara.

Isso que dá querer tanta igualdade. É esse o resultado de fechar as próprias portas e aprender a abrir os próprios vinhos: que cara vai aguentar tanta potência, minha filha? Eles querem tranquilidade. Eles prezam por paz e quem faça o supermercado. Passam longe de qualquer dor de cabeça, imagine de você, que decidiu ser esse furacão que diz o que pensa e pede o que quer. Vai ficar sozinha.

Com a conta recheada, em plena cidade enorme, um closet que fervilhe opções e criatividade e um ou dois gatos: que mais eu poderia querer mesmo? Ser tratada feito mãe, empregada ou criatura submissa é que não tá nos planos.


Vocês, os rasinhos

6.11.2016 -


a minha geração é ridícula. melhor: sentimentalmente ridícula. além do medinho trouxa de se comprometer, rola uma despreocupação com o outro que me tira do sério. nada de "e se fosse com a sua irmã, gostaria que um cara a tratasse assim?". não, é aquilo: ela, ainda que pronome pessoal feminino e da 3a pessoa, é gente. só ouço amigas reclamar dos sumiços, dos absurdos e das babaquices que escutam, vivenciam, desesperançam. quando foi que repartiu a alma em tantos pedaços que esqueceu a delícia que é estar ali, inteirinho?

é bizarro. eles se partilham entre três ou quatro garotas pra não se entregar por inteiro pra uma só. como se fosse crime. tal qual ainda beirasse o ridículo ou cafona demonstrar afeto, sentir carinho, gostar de segurar a mão na rua. uma pergunta simples, como: "você tá solteiro?" se torna o maior dos trampolins pra que o próprio tropece na própria fala. tem uma garota, lá. mas assim, nada sério (ou seja: ainda quero ver você pelada). "só que tem essa mina e umas outras no rolê, como você, certo?" - errado, um equívoco; há muito já cansei da brincadeira sou-de-muitos-pra-não-ser-de-ninguém. meu limite de maturidade não é aceito pra adentrar esse playground.

prefiro mesmo a delícia de separar o kit e pular pra dentro do mistério alheio, sem receio, ojeriza ou parcimônia. acho sexy conhecer família, acho incrível acordar ali ao lado, com bafo matinal, acho importante desvendar horários, maus hábitos e esperanças que a criatura com quem trocamos fluídos carrega nas horas vagas. e acho, também, de uma bundamolice tenebrosa esse lance que inventaram pra que a gente obstrua a passagem de bons sentimentos e segure o máximo o muro das decepções intactos. se todos desencantarão, hora ou outra, pra que tanto esforço para se mostrar suficiente, gélido, fechado para balanço? sério, além de covardes cês são uns panacas.

a minha geração não nota o papel de idiota que segura firme pra reiterar que é livre, é desapegada, é incrível sozinha. é emocionalmente rasa, é feita da falta de flerte, da inexistência de trocas e da extinção dos namoros longos e respeito pelo que passou. todos insubstituíveis, enquanto teclam superficialidades e combinam rolês que furarão no dia seguinte. todos ocupados demais para responder mensagens, receber (& dar) carinho, olhar menos para o próprio umbigo. ser frio é o novo kitsch, contem a eles antes que seja tarde, jovenzinhos que amam signos.


Você é incrível demais pra sofrer por um amor meio bosta

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Quis chorar. Segurei firme. Dessa vez não. São 22h34 e acabo de descobrir, surpresa, surpresa: ele tem alguém. Aquele lance que tanto me enoja e faz revirar os olhos tava acontecendo ali, sob minha intuição certeira e detalhes pegajosos. Normal não era. A demora em responder. A enrolação a cada saída marcada. O tanto que se abriu, num primeiro momento e foi fechando a janelinha do "pode ser você" na minha cara, nos meus braços, depois dar pernas já desnudas. "Você é incrível demais pra sofrer por um amor meio bosta, Camila", repito antes de dormir. É nesse novo mantra que vou me agarrar pelo resto da existência.

Dane-se se durou três semanas ou cinco dias. Eu sou maravilhosa. Um baita amiga. Profissional invejável. Inteligência rápida, criativona e ótima de texto. Sim, tem aqueles lapsos de atenção e uma hiperatividade que não passa. Mas, ainda assim, ótima. Que mais dizer? Sobrevivente em meio ao caos do próprio roteiro, ainda mais numa cidade enorme como São Paulo. Corajosa, óbvio. Quantas garotas tem coragem de largar tudo, pela terceira vez, e arriscar possibilidades e conforto pela aventura? Dá pra contar no dedo as criaturas desse mundão que enfrentam tudo de peito tão aberto, língua tão sincera e com uma transparência de cegar gripados. Ou seja: incrível, eu.

Mesmo que não tenha me formado ainda em faculdade alguma das que comecei. Ainda que não conte com milhões na conta - pelo contrário, verdade. Olha esse corpo, menina. E nem anda se exercitando! Olha a capacidade de ver bonitezas mesmo no lixo dos dias. De se manter positiva, enquanto tudo desmorona. Você ainda dança, e não merece ser assistida tão de perto por aqueles que jamais seriam capazes de captar a sua sensibilidade, toda laço de fita. Problema é dos idiotas que deixarem escapar a chance de ir nesse show que é a sua tentativa romântica de viver até o limite.

Repete amanhã, ao acordar. Em frente ao espelho, mentalmente, enquanto espera o metrô: você é uma porcaria de um diamante imenso e brilhante em meio ao aterro dos dias e a última coisa que merece nessa vida é ir dormir triste por causa de cara que prefere a canalhice. Você é ouro reluzente numa mina já esgotada e chafurdada por tantos, onde poucos conseguiram achar o brilho da luz do seu túnel. Você é som num universo com problemas sérios de audição, alienado inclusive. Você é incrível demais e ele só uma bosta que causou semanas de ansiedade e aprendizados minúsculos. Vai, dê descarga - e faça o favor de purpurinar por aí!



5 consequências ótimas de levar um fora

6.10.2016 -



Me apaixonar é desses passatempos que adoro. Tento ficar quietinha, mais entretida entre textos, jobs e amigas; dificilmente rola. Ou estou perdidamente encantada por algum boy no rolê, ou estou na caça do mesmo. Em raras situações, aproveito – meus casos têm durado pouco, infelizmente.

Mas a verdade é que o amor é dos núcleos importantes pra mim e, quando há flores nesse jardim, ando saltitando pelas cidade, inebriada com o perfume de coisa boa que tá funcionando. Minhas motivações aumentam, acho energia para a agenda cheia, ajudo as migas todas a acreditar também, só mais um pouquinho, nesse saco de sensações variadas que é a paixonite aguda ainda viva.

Portanto, quando tomo foras (ou, deus me livra) ou as coisas simplesmente não funcionam mais e o coraçãozinho dói, tenho tentado encontrar motivos para seguir firme no mood da alegria. Daí é preciso encontrar consequências boas naquela droga interna em que estamos, certo? Eu selecionei cinco que são importantes e podem te ajudar a pensar mais positivamente sobre mais esse ‘não’ da força divina, justo agora. São eles:

1) Apetite que diminui
Já reparou que aquela ansiedade louca de comer um doce após o almoço some quando estamos nos recuperando de um pé na bunda? Aliás, que almoço, né? Normal sentir falta de vontade de comer ou até nojo quando o prato está ali, na frente. Se era o empurrãozinho que você precisava para entrar na linha e maneirar nos carbos, agradeça!

2) Volta do foco à própria vida
Ah, sim. Esse item é bem importante. Não sei vocês, mas eu, quando apaixonadinha, perto as estribeiras das minhas to-do lists, viajo mentalmente para cenários futuros, passados e até mesmo inexistentes. Se o coraçãozinho cheio de amor nos ajuda a ficar mais dóceis e tragáveis, tiram o foco total que ostentamos quando a única preocupação é o próprio umbigo – e tá tudo bem quanto a isso também!

3) Inspiração ad infinitum
zSe você levou um desses foras dolorosos de recuperar, calma. Escreva. Para a pessoa, para desopilar, para você. Ajuda a esvaziar a mente de ideias negativas, é um ótimo paliativo e faz você reorganizar o que sente. Para redefinir quem é você, escreva. Para entender melhor cada detalhe do que rolou, coloque no papel. Para se sentir melhorzinha, abra o app de rascunhos do celular e mande ver. Ou, se quiser, mande pro boy também, oras. A gente só morre um pouquinho nos sentimentos que deixamos entalados.

4) Priorizar filmes de suspense/biopics/ficção
Nem pense em começar Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças ou Blue Valentine (não, não, não!). Sei que você quer chorar e escutar Adele ou qualquer coisa que mate a tristezinha interna. É justo, claro. Mas, por um tempinho, por que não investir em biopics? Posso indicar ao menos duas ótimas: “The Beach Boys: Uma História de Sucesso” e “O final da turnê”, ambos do ano passado, fresquinhos e com ótimos atores. Se distraia e deixe os assuntos românticos um pouco de lado, por ora. Aos pouquinhos – e assim que memórias novas com boys bacanas forem criadas – você volta pro lado Love da força, ok?

5) Ter uma desculpa para cortar o cabelo
Essa consequência é a minha favorita! Quando um boy caga pra mim, é direto demais e me magoa e o lance acaba sem futuro, corro pro salão. Talvez soe frívolo, e tudo bem quanto a isso. Contudo, a gente sabe o poder que um corte novo faz no ego & auto-estima. Sai umas pontinhas e você já está pronta para uma fase nova. O rosto ganha uma franja e de repente se inicia um ciclo mais wild e menos quadrado. Mais que sereias ou signos, é na força das transições capilares que acredito!

Cêjura

6.06.2016 -


é engraçada esse nova moda dos relacionamentos modernos de responder só quando PUDER
REALMENTE (aka. quiser de verdade, já que a pessoa teve tempo de ler e ficar online outras diversas vezes, né) e marcar coisas, mas se rolar uma preguiça maior ou chover, não dar nem a mínima explicação, né?

por um tempão eu tentei ser como esses migos aí, cheios de ~leveza~ e palavras superficiais e me protegia também de engatar conversas profundas (e reveladoras) ou abrir a portinhola do meu peito pra quem parecia valer o rolê - a maioria não fez jus ao privilégio, de fato.

mas, parei de gostar das pessoas? nem um pouco. pelo contrário. deixei de viver coisas ótimas, quando quente e servido o buffet do amorzinho bom? cêjura. e agora, a partir de hoje, se começa já cheio de arapucas, desculpas, armadilhas e enrolação, eu busco ler um livro, ver um filme ou ir beber com as amigas. de boa, eu mereço mais que a covardia gelada de quem se protege, se protege e não vive.